Nessa de reler meus livros, acabei achando um muito especial.
Não só pelo conteúdo, mas pela história. Quando trabalhava no SIG-DF (Setor de
Indústrias Gráficas), a muito tempo. Um amigo ganhou o livro: A Arte de Cuspir,
do próprio autor (Ezio Flávio Bazzo). Eu estava na gráfica, embaixo da editora
e este amigo passou com o livro na mão. Estava novinho, cheirando a tinta e
cola (adoro sentir este cheiro de livro que acabou de nascer). Pedi para dar
uma olhada e vi que tinha até dedicatória.
Adorei o título e a capa (uma reprodução do artista W.Blake. Que sou muito
fã). Na página de rosto tinha: “ A
paciência é um atributo dos alienados. Quem “sabe”, começa a correr contra o
tempo e só para quando entra em coma...”. Me identifiquei de imediato. Meu
amigo disse para eu não ler – Este cara é meio louco – disse ele referindo-se
ao autor. Gostei mais ainda. O livro ficou jogado por lá. E de vez em quando eu
dava de cara com ele. Até que um dia o peguei e resolvi ler. Eu fazia muito
isso na editora. Nem sempre tinha o que fazer. Não existia computador, e muito
menos internet. Então, eu lia muito. Os livros ficavam de bobeira por lá. Eu li
muita poesia, muitos contos e pequenos romances de autores desconhecidos. Ilustrei e finalizei muitos deles também. Mas,
decidi ler o livro e quando comecei , não parei mais. Fiquei tocado pelo
niilismo, pela revolta e pela crueza do texto. Era muita rebeldia para um pós
adolescente. Mas me serviu como provocação
e influência.
O tempo passou e de vez em quando eu lembrava deste
livro. Nas navegadas pela internet
encontrei o autor numa rede social. Adicionei e ele aceitou. Vi que ele
continuava a publicar seus livros e sempre da mesma forma, totalmente
independente. Vi em um dos seus álbuns a capa do Arte... e fiquei louco para
adquirir um exemplar.
Aconteceu que no parque da cidade estava no segundo dia da
Feira do Livro. Todos os anos eu dou uma volta por lá. Quando passei pelo portão
de entrada, eu virei a esquerda e dei de cara com um stand que estava vendendo
livros usados. E, para minha sorte, um deles era justamente “A Arte de Cuspir”.
Nada acontece por acaso. Nosso pensar atrai o que queremos (ou o que não
queremos, mas nos conectamos). Agarrei-o e trouxe comigo. Reli com muito prazer. E claro, o efeito do
texto na minha cabeça não foi a mesma coisa. Mas, mesmo assim, ainda se colhe
muita coisa boa deste maldito livro.
Quem gosta de leituras malditas, rebeldes e revoltadas, esta
é a melhor dica que tenho. Puro niilismo (bomba atômica na cabeça).