terça-feira, 20 de março de 2012

Dia de Faxina

Decidi  limpar minha kitnet. E faxina sempre resulta em mergulhar no passado e jogá-lo no lixo. Pelo menos é assim comigo. Pois demoro muito a  ter este tipo de atividade. Quando era pequeno, minha mãe me encarregava de lavar o banheiro. Esta era minha missão diária enquanto ela trabalhava fora. Então, todas as vezes em que eu me encontro no início de uma faxina começo sempre pelo banheiro. Assim, sempre lembro da minha mãe.

Mas neste dia foi mais forte. Durante a ação de recolher o lixo e organizar meus inúmeros acúmulos (diga-se: revistas, manuscritos, rascunhos, livros e objetos) encontrei três conchinhas. Quando encontrei estas conchas me bateu uma saudade dolorosa da minha velha.  É o seguinte, a dois ou três anos eu excursionei pelo norte do país com a banda de metal que eu tocava.  E uma das cidades em que tocamos foi Parnaíba no Piauí. Cidade onde minha mãe nasceu. Depois que a banda fez seu show, fomos para um hotel a beira-mar, numa praia chamada Luiz Corrêia, onde eu já estive quando criança. Antes de vir morar em Brasília. Pois bem, numa tarde qualquer me sentei na areia e colhi três conchas. Fiquei segurando as três e olhando a paisagem a minha frente. Era uma tarde, acho que umas quatro horas. E o céu estava amplo, trezentos e sessenta graus de céu lindo e maravilhoso. Do lado esquerdo o Sol forte do nordeste quente, do direito uma chuva que se aproximava. Vi a graduação de cores que vinha do amarelo quente flamejante ao cinza escuro e ameaçador. As ondas batiam no meu pé, eu segurava as conchas, algumas jangadas chegavam cheias de peixe e fugindo da chuva que se aproximava.  E eu comecei a pensar na minha mãe. Uma nostalgia forte e maltratante me possuiu. Ali, naquela praia, ela andou quando criança, eu andei quando criança...  e agora estava ali, prestando uma homenagem a ela. A mulher que me amou mais do que qualquer outra na minha vida.  E vendo toda aquela cena, envolvido por sentimentos nostálgicos eu apenas pensava em poder dizer pessoalmente: Muito obrigado por tudo. Você foi a melhor entre as melhores. Guardei as conchas durante todo este tempo e hoje eu as encontrei por acaso.

E voltando para meus afazeres domésticos, na minha mão esquerda uma vassoura, na direita as conchas e no coração uma indescritível e incurável saudade.