quarta-feira, 24 de setembro de 2014

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O tempo passa rápido. Frase batida? Sim. Mas ainda eficiente.
Principalmente quando a idade vai avançando e pode-se olhar o caminho
já percorrido.
Então, cheguei aos meus quarenta e dois. Quatro, ponto, dois...
"Tantas e tantas emoções" (obrigado, Roberto Carlos).
Quarenta e um, foi uma idade turbulenta por demais. Principalmente nos
últimos meses. Em poucos, minha vida se transformou bombasticamente.
Sempre achamos que somos fortes, até que a turbulência nos pega e nos
testa. Sim, quase não consegui. Quase não consegui. Mas... aqui estou!
Sofrido, medicado, bruto, alcoolizado, artístico, odiado, desejado,
chato, brigão e sonso ( "O Sonso", como minha mãe me chamava quando
descobria alguma merda minha. Meu pai preferia "O Ignorante").
Loucura também é uma palavra que significa muito. E lhe garanto, você
só terá seu próprio conceito, depois de vivenciá-la na prática.
Colapsos acontecem !
A loucura, obviamente, é na sua mente. Mas seu espírito e seu corpo
sentem e sofrem a sua consequência de forma brutal. Psicossomáticas
pipocam por todo o seu físico. E deixam sequelas !
Bom, aprendi muito neste ano. E conheci pessoas de todos os tipos.
Algumas me acrescentaram muito. Outras foram brisa.
Neste aniversário, eu estava em uma convenção de tatuagem. Pouco
antes da meia noite, fui (com mochila e mala. Equipamentos) para a
rodoviária, tentar pegar o último ônibus. Ninguém lá sabia me passar
uma informação precisa sobre de onde sairia meu ônibus. Fui andando,
feito um rato de esgoto ( que lá tem em abundância neste horário)
tentando descobrir o local por conta própria.
O submundo toma de conta do centro da cidade, perto do poder, enquanto
outras classes dormem.
Muitos viciados, traficantes, prostitutas, pivetes e os últimos
trabalhadores da noite. Todos convivendo ali em uma harmonia sinistra
e dramática. Comprei uma cerveja com um ambulante que transitava com
seu isopor. Meia noite e eu brindei sozinho a mim mesmo e a toda
aquela situação. Cantei mentalmente meu "Parabéns pra Você" e me
senti bem. Eu estava realmente bem. Como a algum tempo não ficava, nem
me sentia.
Continuei andando e ouvi meu nome sendo chamado. Era um amigo garçom
que eu conheci em um um dos botecos que frequentava na Asa Sul.
Batíamos muito papo quando eu andava por lá. Ele tem o nome da filha
tatuado em um dos braços. Eu que fiz. Ele me chamou, me apresentou a
uma pequena turma que estava com ele e me indicou o lugar certo para
pegar o meu ônibus. Me disse que o que eu queria, sairia só às duas
horas da madrugada.
Todos com caras cansadas, sonolentos e sujos. E eu, com quarenta e dois.
Estavam indo para Planaltina e eu , para o Gama. Nos despedimos (o
deles, chegou), e eu fui em busca de mais uma cerva.
Vi playboys comprando drogas, prostitutas brigando, moleques fumando
seus baseados, crackeiros, velhos dormindo, policiais passeando,
ratos... muitos ratos. Ratos gigantes, atacando os lixos. E eu bebendo
e andando (quase uma versão de "cagando e andando"). Esperando o tempo
passar. O meu tempo, passar. Meu ônibus sairia só às duas da
madrugada.
O ônibus chegou, enfrentei uma pequena fila. Antes de subir, comprei
mais uma latinha. Sentei logo depois do cobrador. É o único lugar que
minhas pernas cabem. Coloquei a mala ao lado, bebi a cerva, abracei a
mochila, pensei em tudo. E dormi.