terça-feira, 14 de agosto de 2012

Já a um bom tempo perdi a vontade de sair por aí.

Já a um bom tempo perdi a vontade de sair por aí. Ir a shows, festas, encontros, churrascos... Ando sem a menor vontade de encontrar pessoas. Sei lá, pode ser algum problema. Ou simplesmente consequência de amadurecimento e falta de perspectivas com a humanidade em geral. Grupos sociais, já eram. São sempre os mesmos assuntos, os mesmos problemas e as mesmas expectativas. E o pior é que estando dentro de um, acaba-se tão envolvido que sem se dar conta, logo o assunto e toda esta egrégora começa a fazer parte da própria vida. Um tipo de contaminação psicológica. Então, este afastamento pessoal está cada vez mais forte. Hoje prefiro cem vezes mais, ficar fechado em um silêncio de vozes alheias, do que qualquer roda de amigos.  O tempo deve sempre ser empregado em algo que nos traga algum benefício. Mesmo a ociosidade te dá um retorno positivo, se for usado de forma criativa. Pensar, sem interrupções, é um ótimo passa tempo. Principalmente para quem gosta de se envolver com algum tipo de criação.

Em uma destas minhas tentativas de curtir a noite com o povo. Eu e minha namorada fomos a um showzinho de uma banda de amigos. Chegamos, e nos enturmamos, fazia muito tempo que não íamos a um show de rock. Coisa que já foi bem frequente. Lógicamente, fui logo buscar as bebidas e começamos a bebericar. Afinal, estávamos em um show de rock! Daí começa toda minha surpresa, nenhum dos amigos estava mais bebendo. Todos, ex companheiros de banda, baladas e churrascos, estavam abstêmios. Todos resolveram que esta vida, ou seja lá como a chamam, não valia a pena. Bebi praticamente só. Pois minha namorada precisava dirigir de volta, e logo parou na primeira dose. Me diverti, curti as músicas, e sempre com minha birita na mão. Afinal, ser rockeiro para mim sempre esteve envolvido com o quebrar de regras e ser rebelde. Naquele momento, eu estava me sentindo o mais rebelde dos rebeldes, pois estava bêbado em meio aos rockeiros sóbrios. A noite terminou, me despedi dos amigos, elogiei o show (que realmente foi ótimo) e voltamos para nossa vidinha.

O pior de tudo veio depois, através de um comentário que correu até chegar aos meus ouvidos. Um dos meus "brothers" (antigo parceiro de biritas) comentou com outro: "Poxa, ficar sem beber me deu uma outra visão de tudo, principalmente ver meus amigos antes e depois de estarem bêbados. Precisava ver o Maurício antes e depois do show ..." Me questionei: Ué, como eles acham que um rockeiro deve ficar depois de curtir uma noite de show? Limpo, sóbrio, bem vestido e sério?

Depois deste comentário, fiquei muito pensativo. Primeiramente me senti errado, sei lá. Esta é a reação natural. Você acha que, por ser a minoria, é o errado. Mas, um dos benefícios de se estar só, é o distanciamento. É a possibilidade de analizar a distância qualquer fato. Depois, percebi o óbvio. Ser assim, como sou, não é para qualquer um.  Fazer o que se está realmente afim de fazer é uma arte ("faça o que tu queres"). Em vez de ficar pensando em mim, em que ponto poderia estar errado, resolvi pensar nos outros, fazer uma pequena generalização e descobrir algumas respostas para meus questionamentos. Não ficarei aqui descrevendo tudo o que analizei, mas sendo bem geral e resumido, meus antigos parceiros estão mudados por consequências bem parecidas. Faço parte de uma geração perdida e frustrada. Brasília já foi a capital do rock entre os anos 80 e 90. Tivemos aqui bandas expressivas e que fizeram história. Éramos crianças e pré-adolescentes, cheio de sonhos e rebeldias.  Claro que em um lugar onde não se tem muito o que fazer, nos restou o rock. Todos queriam ser rockeiros. Os estilos explodiam, era o Punk, o Metal, o Nacional, o Gótico... Tnha para todos os gostos. As bandas pipocavam por metro quadrado.E  neste processo todo, inúmeros talentos se revelaram. Tinha artista (de qualidade) em todas as vertentes. Eis o processo contrário, o de ver seus sonhos afundarem. Nem todo mundo se deu bem (a grandessíssima maioria). Aquele cara que um dia era venerado localmente. Aquele cara que as meninas ficavam loucas em ver subir no palco, aquele cara que fazia coisas loucas e era ovacionado...  passara a ser um zumbi. Andar por aí sem ter todo aquele Blá-blá-blá de outrora. E quando tentava ser destaque em alguma coisa, era logo mal falado.

Observando  melhor tudo ao meu redor, cheguei a conclusões: Claro que não são todos, mas a grande maioria se priva de uma vida mais desregrada por consequência de inúmeras decepções. Relacionamentos que fuderam com suas vidas, bandas que não deram em nada, estudo exagerado de algum instrumento para não dar nem mesmo num reconhecimentozinho. E principalmente, Mulheres !!! Todos agora querem ser o correto, o equilibrado, o  sóbrio e o namorado perfeito. E eu passei a me sentir melhor. Não por que me acho fora deste contexto. Nada disso. Já tive relacionamentos que fuderam minha vida, já tive bandas que não deram em nada e já me meti a aprender instrumentos, já larguei  tudo por mulheres.  Fiz tudo e me envolvi  diretamente com todo este movimento. Mas acho que consegui deixar dentro de mim algo que não está nesta grande maioria. O prazer de ser rebelde. De ser contra-correnteza, de ser rockeiro de corpo e alma. E principalmente, de ser artista. Todos iremos morrer, todos... Bem sucedidos ou não. Bem amados ou não. Nossa juventude vai passar. Assim como as palmas, as vaias, os relacionamentos, os micos e os amigos.  

Então, eu ainda prefiro curtir meu rockzinho antigo. Prefiro ver Hendrix doidão debulhando sua strato. Prefiro ver Janis arrancar da alma uma expressividade sem igual. Ver Morrison se entregar no palco como se fosse a última vez. Ver o solo do Jimi Page com catadas e riffs batidos, mas tocados de forma única. Ver Lennon trocar tudo por sua japa feia e mal quista. Peço desculpas aos meus amigos todos, de verdade, mas prefiro curtir tudo isso sozinho. Ficar bêbado e cair na segurança do meu mundinho. E quando vocês estiverem com seus cem anos de vida saudável e regrada (com suas esposas fiéis, saudáveis e maravilhosas), derramem um Red Label na minha sepultura e se divirtam muito com minhas histórias mal contadas. E não precisam fazer nenhuma oração.  Ficarei super agradecido.